LAVAI AS MÃOS!
Dr. DRAUZIO Varella
De todas
as recomendações maternas, a de lavar as mãos talvez seja a mais desobedecida.
Parece pirraça.
Na
agitação de hoje, lavar as mãos antes de pegar nos alimentos virou luxo,
esquisitice de gente cismada, mania de hipocondríaco. É só entrar numa
lanchonete da cidade, botequim de bairro ou restaurante caro e contar quantos
tomam tal precaução higiênica antes de atacar o hambúrguer, a batata frita ou o
pãozinho com patê. Na hora das refeições, a mão suja é universal, irmana
trabalhadores braçais, moças bonitas e senhores de gravata.
No
entanto, se todos lavassem as mãos com água e sabão (qualquer sabão) antes de
manipular os alimentos muitas doenças seriam evitadas. Perderíamos o medo de
comer empadinha em padaria, pastel de feira, espetinho de camarão na praia e os
tradicionais salgadinhos expostos em todos os bares brasileiros, que a
religiosidade do povo houve por bem batizar de “Jesus me chama”.
É
possível que sejamos tão renitentes em lavar as mãos porque vírus, fungos e
bactérias são seres tão minúsculos que, no fundo, não acreditamos na existência
deles. Fica um pouco chato, entretanto, manter essa descrença mais de 300 anos
depois da descoberta do microscópio.
Mais
recentemente, a importância de esfregar as mãos com água e sabão foi bem
caracterizada nas unidades de transplante de medula óssea. Nesse tipo de
transplante, as defesas imunológicas ficam arrasadas por vários dias e o doente
se torna vulnerável aos germes que o cercam.
Quando
surgiram as primeiras unidades de transplante nos Estados Unidos, nos anos 80,
para entrar no quarto do paciente era preciso colocar luva, gorro, máscara,
avental e proteção para os pés. Além disso, de uma das paredes vinha um fluxo
de ar contínuo que passava pela cama do doente e saía pela porta
permanentemente aberta. Todos os que entravam no quarto eram proibidos de ficar
entre a cama e essa parede, para impedir que a corrente de ar levasse os germes
do visitante para o doente.
A
experiência mostrou que tais medidas eram dispendiosas e descabidas. Hoje, nas
unidades de transplante, pode-se chegar com a roupa da rua, mas é obrigatório
lavar as mãos ao entrar e sair do quarto do transplantado, não importa o que o
visitante tenha ido fazer lá dentro.
Uma
medida tão simples como a lavagem das mãos tem grande importância em saúde
pública. Por exemplo, se fosse possível convencer todos os que trabalham nos
hospitais – principalmente médicos e enfermeiras – de que antes e depois de
pegar numa pessoa doente as mãos precisam ser lavadas, estaria decretado o fim
das infecções hospitalares. Se conseguíssemos ensinar as mães a tomarem o mesmo
cuidado antes de tocar em qualquer coisa que vá à boca do bebê, talvez acabasse
a mortalidade por diarreia infantil no país.
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